A beleza oculta
20/02/2025, quinta-feira, 9:30 horas da manhã: estou acompanhando a vó durante mais uma internação no hospital. Dessa vez, com ela entrando de cadeiras de roda, com o olhar distante, fala limitada e muito desconforto de enjoo e fraqueza.
Ela emagreceu facilmente uns 6 quilos nas últimas semanas. Uma série de fatores que nos trouxeram até aqui....
Já passou do horário do café chegar no quarto e eu vou atrás da moça da copa. No caminho, passo em frente do quarto 203, onde vejo uma mulher pendurando uma faixa de feliz aniversário. Achei bonito, pensei em parar para elogiar, mas também não queria incomodar ou parecer enxerida demais... dei dois passos retornando em direção ao quarto e não me aguentei! Voltei para poder falar para aquela mulher que bonita que estava aquela cena.
Ela pede para eu entrar e diz que a mãe dela está de aniversário. O tema: cinderela. A aniversariante estava completando 86 anos no hospital, durante seu tratamento depois de já ter passado 1 mês em UTI e apresentar sinais de demência. Era dia de bolo, chapeuzinho e comemoração da vida.
Fiquei feliz com o convite para voltar mais tarde, fim da manhã ou tarde, para comer um pedacinho de bolo e fazer parte dessa comemoração e confirmei minha presença.
Essa quinta-feira também ia me exigir, além do cuidado com a vó, a entrega de um projeto, a gestão da família e decisões importantes sobre como conduzir o quadro de saúde (grave) da vó. No meio desse dia, mais caos envolvendo a saúde da vó e não deu tempo de ir pra festa da vizinha do corredor ao lado.
De quinta para sábado eu me senti constantemente incomodada de ter confirmado a presença e não ter ido. Então, no sábado a tarde, quando minha mãe e irmã vieram ficar um pouquinho com a vó, consegui dar uma fugida pro apto 203.
Selma, a aniversariante da semana, estava fazendo as unhas com a filha, que mais uma vez me recebeu com um sorrisão e o convite para entrar. Ficamos as 3 ali, naquele quarto ainda decorado para o aniversário, nos conhecendo, até que Selminha disse: "você não é mais a nossa diarista, agora você é nossa amiga".
A filha me contou que a diarista largou elas durante o tratamento da Selma e, então, que a tal diarista não seria mais boa gente na visão da mãe. Considerei um baita presente nesse sábado ser colocada no posto de amiga daquela senhora que volta e meia soltava um sorrisão, depois que a filha falava algo engraçado ou alguma bobeira no ouvido dela.
Um hospital, um café da manhã atrasado, uma pessoa que amo muito se encaminhando para a morte e, no meio disso tudo, a beleza oculta daquela linda relação de mãe e filha em um quarto vizinho, com as duas dando risada, falando besteira e comemorando a vida com uma decoração de tema cinderela.
A vida é linda até em meio ao caos. Basta se permitir olhar as belezas no caminho... elas sempre estão lá!



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